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EFEITO
DO ALCOOL NO RACIOCINIO, LINGUAGEM E MEMÓRIA
Drauzio - É desagradável conversar com uma pessoa alcoolizada.
Articula mal as palavras e o pensamento fica comprometido. O que acontece
com a estrutura do raciocínio nessas pessoas?
Ronaldo Laranjeira – O efeito paradoxal do álcool
no cérebro é a falsa sensação de certa euforia
e bem-estar que ele produz. A tendência é a pessoa imaginar
que está falando coisas muito interessantes, perseverar na repetição
das ideias e rir do que não tem graça. Seu pensamento fica
empobrecido, mas ela não se dá conta disso.
É muito ruim o convívio de quem não bebeu com alguém
que esteja alcoolizado. O processo mental de pensar, sentir, raciocinar,
planejar fica marcantemente alterado sob o efeito do álcool. Alcoolizadas
as pessoas não elaboram emoções nem pensamentos complexos,
porque desenvolvem certa rigidez de pensamento. Por isso, pessoas intoxicadas
alegres e felizes podem tornar-se violentas num instante se algo estranho
ou diferente acontecer, uma vez que perderam a agilidade e a flexibilidade
do pensamento. Isso explica um pouco o número significativo de
mortes que ocorre em bares da periferia de São Paulo. Os homens
estão bebendo aparentemente em paz, mas basta que alguém
fale mal do time do coração de um deles para que este saque
o revólver e dispare um tiro. É uma situação
de violência provocada pelo conceito cultural de lazer ligado aos
bares e pela ação farmacológica do álcool
que engessa muitos processos mentais.
Drauzio – Quais os efeitos do álcool sobre a memória?
Ronaldo Laranjeira – Os danos que o álcool produz
a médio e longo prazo no organismo são os mais importantes.
As pessoas em geral se preocupam com o efeito do álcool no fígado,
mas o dano que ele provoca no cérebro, especificamente na memória,
é muito mais grave e mais comum. Exames neuropsicológicos
que avaliam a memória e outras funções cerebrais
em pessoas não necessariamente dependentes de álcool, mas
que tomam três doses de uísque por dia, comprovam a existência
de danos sutis na memória e na rigidez do pensamento, que elas
não percebem ou atribuem ao processo natural do envelhecimento.
A evolução pode ser lenta, mas o uso nocivo do álcool
dentro desse padrão médio de consumo já acarretou
com certeza distúrbios cerebrais.
Drauzio – Na intoxicação aguda, isso é
muito nítido. Muitas vezes, a pessoa não se lembra do caminho
que fez para chegar em casa, nem de nada que fez enquanto estava embriagada.
Ronaldo Laranjeira – Esse fenômeno se chama black-out
ou apagamento. Parece que o álcool inunda algumas áreas
do cérebro e produz esse efeito. Esse é um momento bastante
perigoso na vida dessas pessoas, porque ocorreu um dano cerebral agudo
que as expõe a grandes riscos. Dirigir automóvel intoxicada
dessa forma, por exemplo, aumenta enormemente a probabilidade de acidentes
graves, porque os reflexos são toscos e as reações
lentificadas.
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