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DIFICIL RELAÇÃO ENTRE PAIS JOVENS E FILHOS
Hoje recebo jovens pais com uma freqüência crescente. São adolescentes
que se tornaram pais de uma forma inesperada, jovens entre 25 e 30 anos
que estudaram muito, mas sem experiência alguma de vida, que estão começando
agora a andar sob suas próprias pernas ou pais de 40 anos ou mais que
adiaram a maternidade por projetos profissionais e agora o filho é “o
projeto” de suas vidas.
Por terem acesso a psicoterapia, procuram por orientação, para “consertar”
as falhas apresentadas ou para “aprender” o papel de pais que eles não
conseguem assumir. Alguns simplesmente trazem os filhos e dizem: “não
sei o que fazer com ele, ele não me obedece” e esperam que o psicólogo
“dê um jeito nele”. Outros dizem: “eu já fiz de tudo e nada adianta, o
problema é ele”.
A maior dificuldade que encontro em lidar com os pais tem sido duas: a
crença de que “se eu fizer tudo certo, tudo vai dar certo” e de que “a
missão dos pais é fazer os filhos felizes” como se a felicidade fosse
um direito adquirido dos filhos a ser proporcionado pelos pais.
São crianças de 3, 4 anos que tiranizam a família e a escola; púberes
com transtorno de ansiedade, obesidade, timidez e vitimas de bulling;
adolescentes sem limites, sexualidade exacerbada, uso de álcool, tabaco
e outras drogas, violência, acidentes, depressão, hiperatividade.
Todos estes transtornos vem ocorrendo em idades cada vez mais precoce
e com maior freqüência. O que está acontecendo com nossos crianças? E
com seus pais?
Ter filhos tornou-se um projeto pessoal dos pais como o trabalho, o esporte,
o corpo, o sucesso social, com metas a alcançar e pódio a conquistar e
para isso, trabalham cada vez mais para poder oferecer cada vez mais,
não medindo esforços em oferecer o melhor e mais moderno, desde o berço.
Tentam tirar todos os problemas e protegê-los de todas as dificuldades,
muitas vezes fazendo por eles o que eles precisam aprender a fazer.
Desde bebê a criança faz o horário comercial dos pais e freqüenta os espaços
sociais dos adultos. Tentam encaixá-la na rotina de vida deles, mas criança
precisa de coisas de criança: atenção, carinho, companhia, orientação
constante, estímulo e valorização para crescer confiante, segura e desenvolvendo
seus próprios potenciais. E isto está em falta no mundo de hoje: tempo
para conviver, para conversar e qualidade nos relacionamentos.
A vida é corrida, a necessidade de consumo é sempre maior, o sucesso é
medido pelos acertos e resultados de excelência... tudo desfavorece este
processo de crescimento entre pais e filhos.
As crianças precisam de coisas básicas e simples: colo, beijos, avós,
primos, terra, praia, campo, animais, amigos, boas referencias e tempo
para amadurecer. Boas bases permitem as mais variadas construções.
Pensando bem, os pais precisam das mesmas coisas, não acha?
Escrito por Magali Hemzo
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