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ABSORÇÃO
DO ÁLCOOL EM HOMENS E MULHERES
Drauzio – Um trabalho americano mostrou que, se uma mulher tomar
uma cerveja, o efeito será igual ao do homem que tomou duas cervejas.
Essa proporção está correta?
Ronaldo Laranjeira – É mais ou menos isso.
O efeito de uma cerveja no corpo de uma mulher equivale ao efeito de duas
cervejas tomadas por um homem de mesmo peso corpóreo que ela.
Drauzio – É uma diferença muito grande. Imagine
uma mulher miudinha e um homem grandalhão bebendo a mesma quantidade
de álcool. Nela o estrago será muito maior.
Ronaldo Laranjeira – É verdade. Por isso, mesmo
que o tempo de ingestão e a quantidade ingerida sejam parecidos,
nas mulheres que procuram tratamento por causa de problemas com o uso
do álcool, os danos biológicos são muito maiores
do que nos homens. Esse é um fator importante a considerar. A socialização
da mulher que hoje transita por bares e festas com mais naturalidade colocou-a
em contato com a bebida à semelhança do que ocorreu com
a população masculina. Resultado: número significativo
de moças está se expondo mais aos danos biológicos
do álcool.
O METABOLISMO DO ÁLCOOL NAS MULHERES NÃO É
IGUAL AO DOS HOMENS.
Se administrarmos para dois indivíduos de sexos opostos a mesma
dose ajustada de acordo com o peso corpóreo, a mulher apresentará
níveis alcoólicos mais elevados no sangue.
A fragilidade aos efeitos embriagadores do álcool no sexo feminino
é explicada pela maior proporção de tecido gorduroso
no corpo das mulheres, por variações na absorção
de álcool no decorrer do ciclo menstrual e por diferenças
entre os dois sexos na concentração gástrica de desidrogenase
alcoólica (enzima crucial para o metabolismo do álcool).
Por essas razões, as mulheres ficam embriagadas com doses mais
baixas e progridem mais rapidamente para o alcoolismo crônico e
suas complicações médicas.
PREJUIZOS GLOBAIS A SAUDE DA MULHER:
Num dos estudos mais completos sobre o tema foram acompanhadas 13 mil
pessoas durante mais de 12 anos. Nele foi possível demonstrar:
No fígado
1) Para todos os níveis de consumo alcoólico, as mulheres
correm mais risco de desenvolver doenças hepáticas do que
os homens;
2) Para os mesmos níveis de ingestão, o risco de cirrose
nas mulheres é três vezes maior;
3) Mulheres que tomam de 28 a 41 drinques por semana (1 drinque = 1 copo
de vinho = 1 lata de cerveja = 50 ml de bebida destilada) apresentam risco
de cirrose 16 vezes maior do que o dos homens abstêmios.
Doenças cardiovasculares
Mulheres que ingerem um drinque por dia apresentam menor probabilidade
de morte por doença cardiovascular. Esse benefício também
é válido para as mulheres diabéticas.
No entanto, a análise dos dados de dezenas de milhares de mulheres
acompanhadas no “Nurses’ Health Study” revelou que tomar
dois ou três drinques diários aumenta o risco de surgir hipertensão
arterial em 40% e a probabilidade de acontecer derrame cerebral hemorrágico.
Nas mulheres que bebem mais do que três drinques por dia o risco
de hipertensão arterial duplica.
Mulheres que abusam de álcool desenvolvem também miocardiopatias
mesmo usando doses mais baixas do que os homens.
Câncer de mama
A meta-análise de seis estudos importantes mostrou que mulheres
habituadas a ingerir de 2,5 a 5 drinques por dia, apresentam probabilidade
40% maior de desenvolver câncer de mama. Esse risco aumenta 9% para
cada 10 gramas de álcool (cerca de 1 drinque) diárias.
Osteoporose
O efeito inibidor da remodelação óssea do álcool
é fenômeno bem conhecido em ambos os sexos. Mulheres com
menos de sessenta anos que tomam de dois a seis drinques por dia têm
risco maior de fratura de colo de fêmur e de antebraço.
Distúrbios psiquiátricos
Todos eles são mais prevalentes em mulheres que abusam de álcool
do que em homens que o fazem e do que em mulheres abstêmias. A única
patologia mais freqüente no alcoolismo masculino é a personalidade
anti-social.
A prevalência de depressão em mulheres que abusam de álcool
é de 30% a 40%. Estudos demonstram que a maior parte dessas mulheres
bebe como forma de se livrar dos sintomas associados a quadros de depressão
primária.
Anorexia e bulimia estão presentes em 15% a 32% das que abusam
de álcool.
Mulheres que abusam de álcool tentam o suicídio quatro vezes
mais frequentemente do que as abstêmias.
Consequências para o feto
A ingestão de álcool durante a gravidez pode provocar distúrbios
fetais que vão do retardo de desenvolvimento à chamada síndrome
alcoólica fetal, caracterizada por anormalidades físicas
comportamentais e cognitivas. Consumo de álcool durante a gravidez
é considerado a principal causa evitável dessas anormalidades
na infância.
Na dúvida, recomenda-se que a gestante não beba, afinal
são apenas nove meses.
Alguns trabalhos sugerem, no entanto, que beber pouco e regularmente é
menos grave para o feto do que beber muito de uma só vez: tomar
um copo de vinho por dia, durante cinco dias, traz menos riscos do que
tomar os cinco numa única ocasião.
Ao contrário do que se pensava, os efeitos nocivos do álcool
não se fazem sentir apenas no primeiro trimestre, período
crucial para o desenvolvimento embrionário. Um estudo norte-americano
mostrou que o abuso de bebida durante o segundo trimestre está
associado à dificuldade dos filhos para aprender a ler e a escrever.
A complicação mais grave, porém, é a síndrome
alcoólica fetal, distúrbio que pode surgir em 50% das gestantes
que ingeriram álcool. O diagnóstico é baseado nos
seguintes critérios: redução do tamanho do feto (abaixo
de 10% do esperado), alterações faciais típicas e
distúrbios neurológicos.
Consequências psicossociais
Problemas familiares são mais comuns entre mulheres que abusam
de álcool (entre os homens são os problemas legais e aqueles
relacionados com o trabalho). O alcoolismo torna as mulheres mais sujeitas
a agressões físicas. Mulheres que consomem quantidades
exageradas de álcool geralmente vivem com parceiros que também
abusam da bebida.
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