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Saiba
como cada parte do seu corpo sofre com o excesso de álcool
Confira no infográfico como o abuso de bebidas compromete o fígado,
cérebro e até os músculos
Por Carolina Gonçalves
Cerveja, chope, whisky, vodka, caipirinha. Antes de encher o caneco neste
Carnaval, é bom saber de algumas informações valiosas
sobre os efeitos do exagero do álcool no seu corpo. Você
sabia que os dados mais recentes da Organização Mundial
de Saúde (OMS) mostram que os brasileiros consomem 18,5 litros
de álcool puro por ano, sendo, portanto, o quarto país que
mais consome álcool das Américas?
E as pesquisas não param por aí. Ainda segundo a OMS, o
álcool causa quase 4% das mortes no mundo todo, matando mais do
que a Aids, a tuberculose e a violência. Hoje o impacto do abuso
de álcool é considerado igual ao impacto da dependência
em si, o alcoolismo.
Para
aqueles que não sabem, abuso de álcool é quando a
pessoa ingere bebida alcoólica em doses maiores que cinco, em uma
só situação, sem uma "carreira" de consumidor,
mas mesmo assim colhe os malefícios para o organismo.
Esse dado é preocupante, já que revela que aquela pessoa
que abusa de bebidas alcoólicas uma vez ou outra pode correr os
mesmos riscos de vida do que uma pessoa dependente.
"Isso acontece por que o corpo de um abusador não está
acostumado com o etanol, diferentemente do dependente", conta a médica
psiquiatra Ana Cecilia Marques, pesquisadora da Unidade de Álcool
e Drogas (Uniad) da Unifesp e especialista em dependência química
da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras
Drogas (Abead).
Confira agora por que o excesso de bebidas alcoólicas causa tantos
danos ao nosso organismo e quais partes do nosso corpo são mais
afetadas com essa prática:
Por que o excesso de álcool causa tantos danos?
Para entender como a ingestão de bebidas alcoólicas consegue
causar danos a tantas partes do nosso corpo, é preciso explicar
o processo de metabolização do álcool ou etanol,
ou seja, como o nosso corpo absorve, metaboliza e excreta essa substância.
A médica Ana Cecilia explica que o órgão responsável
por metabolizar o álcool é o fígado, e que ele só
metaboliza em média uma dose de bebida alcoólica por hora
- entenda uma dose como uma lata de cerveja (360ml), uma taça de
vinho (100ml) ou de destilado (40ml).
Portanto, se tomarmos seis latas de cerveja, por exemplo, nosso fígado
irá levar as mesmas seis horas para metabolizar todo o álcool
presente em nosso corpo. "E enquanto o fígado metaboliza a
primeira latinha, o resto do álcool fica circulando no sangue e
intoxicando, causando alterações e danos em diferentes órgãos",
explica Ana Cecília.
O órgão responsável por metabolizar o álcool
é o fígado, e ele só metaboliza em média uma
dose de bebida alcoólica por hora.
Sistema gastrointestinal
Quando bebemos uma cerveja ou uma caipirinha, o álcool logo é
absorvido pelo nosso sistema gastrointestinal. Ele irrita as mucosas do
esôfago e do estômago, alterando as membranas do intestino,
prejudicando a absorção.
Os resultados podem ser esofagite, gastrite e até diarreia. Já
no fígado, o álcool vai alterar a produção
de enzimas, aumentando este conjunto de substâncias que serão
responsáveis pela metabolização.
"É como se o álcool forçasse o trabalho do fígado,
que fica sobrecarregado", diz Ana. "O fígado passa a
produzir mais enzimas para metabolizar o etanol e isso culmina com uma
inflamação crônica e hepatite alcoólica, podendo
evoluir para cirrose", completa.
Sistema nervoso central
Quando abusamos das bebidas alcoólicas, o sistema nervoso, ou seja,
nosso cérebro é afetado logo após a ingestão
da segunda dose. Homens apresentam alterações na percepção
da realidade e do comportamento logo após a segunda dose, e mulheres
já na primeira.
De acordo com a especialista Ana Cecilia, os sintomas decorrentes da presença
de álcool no sistema nervoso são: problemas de atenção,
perda da memória recente, perda de reflexo, perda do juízo
crítico da realidade. Com o aumento da dose, sonolência,
anestesia e, no grau mais elevado, o coma alcoólico.
"O coma é um grau de intoxicação grave, por
ação direta do etanol no sistema nervoso central e em outros
sistemas orgânicos", diz Ana Cecilia. Quando isso acontece,
é muito importante procurar socorro médico. Se o corpo não
conseguir se recuperar do coma, pode haver parada respiratória,
podendo levar à morte.
A reversão do quadro inclui medidas gerais para manutenção
da vida, que vão desde oxigenação, hidratação,
correção da glicemia, do magnésio e do zinco, entre
outros cuidados que podem variar de caso para caso.
Sistema renal
Os rins são responsáveis pela filtração final
do etanol, de apenas 6% da substância. Mas quando abusamos das bebidas,
o etanol altera a capacidade dos rins de filtrar as substâncias
do nosso corpo, causando uma alteração dos hormônios
que controlam a pressão arterial, o que culmina em hipertensão
arterial.
Pulmões
Como o sangue passa pelos pulmões para efetuar as trocas gasosas,
nem esse órgão fica livre dos efeitos do álcool.
"O etanol deixa as trocas gasosas mais lentas, pois os pulmões
recebem um sangue muito sujo", conta Ana Cecilia.
O resultado disso é uma respiração mais lenta, fazendo
a pessoa sentir dificuldades para respirar. É por isso também
que o bafômetro capta o álcool ingerido, que ainda está
circulante.
Sistema cardiovascular
A ingestão de bebidas alcoólicas favorece a liberação
de dopamina no cérebro. Este hormônio neurotransmissor é
responsável pela regulação de outras substâncias
que, por sua vez, regulam o sistema cardiovascular.
Isto significa uma possível alteração da pressão
arterial, da frequência cardíaca e depois, dos vasos sanguíneos.
A taquicardia e a hipertensão arterial são as consequências
mais comuns.
Sistema
muscular
É o sistema nervoso central o grande responsável por movimentar
nossos músculos. A médica especialista da Abead explica
que além da alteração central causada pelo álcool,
que deixa as mensagens que chegam aos músculos mais lentas, as
ligações nervosas periféricas são comprometidas,
e a sensação é de relaxamento.
Sistema hormonal
Ninguém escapa da ação do etanol e, portanto, as
glândulas também têm seus produtos, no caso os hormônios,
alterados. Porém, são as pessoas que já apresentam
doenças de alteração hormonal, como diabetes, que
sentem com mais intensidade os danos físicos pela ingestão
de bebidas alcoólicas.
A principal consequência do abuso de álcool em diabéticos,
por exemplo, é uma rápida evolução ao coma
alcoólico. Ana explica que o etanol altera a metabolização
da glicose pelo fígado e pelo pâncreas, este último
já adoecido pelo diabetes. Por conta disso, os danos aparecem mais
rápido.
Ressaca
Além de todas as complicações que o álcool
causa enquanto o indivíduo ainda está embriagado e intoxicado,
ele ainda deixa seu efeito para o dia seguinte, a famosa ressaca. Dentre
os sintomas da ressaca estão enjoo, vômitos, diarreia, tontura,
pensamento embaralhado, moleza e até um sentimento de tristeza.
Abuso do álcool é diferente do alcoolismo
Como já foi dito anteriormente, o abuso do álcool é
quando a pessoa bebe em grandes quantidades e tem problemas, mas não
é dependente.
O alcoolismo é a doença crônica, a dependência
pela bebida. E as consequências são individuais, tanto para
os abusadores como para os dependentes.
"Quando a pessoa é dependente de álcool é diferente.
Ele tem uma tolerância maior pelo etanol, que demora em média,
cinco anos para se desenvolver", conta Ana Cecilia.
Os órgãos e sistemas comprometidos são os mesmos
citados acima, porém, quando os problemas aparecem, as complicações
são bem mais graves e muitas vezes irreversíveis.
Dentre as doenças que podem surgir do alcoolismo estão gastrite
crônica, hepatite crônica que pode evoluir para cirrose, hipertensão
arterial, diabetes por alteração crônica no funcionamento
do pâncreas e problemas de memória que podem evoluir para
demência alcoólica - não só quando está
sob os efeitos da bebida, como é o caso do abuso -. Além
disso, o álcool também altera a imunidade, abrindo caminho
para o surgimento de outras doenças.
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