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TRATAMENTO
PSICOLÓGICO DOS FAMILIARES
É muito importante deixar claro o significado dos seguintes termos:
Pesar e Pena. Estes sentimentos estarão
presentes, de forma variada, nos familiares de pacientes com câncer
e são termos que se usam, freqüentemente, com diferentes intenções
(Rando, 1984).
Pesar
Pesar é o sentimento que surge como reação
ao fato de ter sofrido uma perda. O Pesar identifica a situação
específica das pessoas que tenham experimentado uma determinada
perda (Corr, 1997), portanto, o Pesar é uma reação
emocional específica a este determinado "objeto".
Devido à perda, se desenvolve uma grande quantidade de emoções,
experiências e mudanças na vida psíquica da pessoa.
A duração desse estado depende da intensidade da relação
com a pessoa que morreu ("objeto" perdido). É bom sublinhar
que o Pesar tem também um aspecto antecipatório,
ou seja, supõe o aparecimento de emoções e sentimentos
antecipadamente à perda (vai morrer).
Pena
A Pena é o processo normal de reação
emocional à percepção (forte indício) de uma
perda. As reações de Pena podem ser vistas
nas respostas à perdas básicas ou tangíveis, como
por exemplo a morte, ou a perdas abstratas e psicossociais, como por exemplo
o divórcio, o emprego, etc.
Cada tipo de perda implica experimentar algum tipo de falta ou privação.
Durante o processo que atravessa uma família que vivencia o câncer,
se experimentam várias perdas e cada uma gera sua própria
reação. As reações de Pena podem ser psicológicas,
físicas, sociais e conflitos emocionais.
As reações psicológicas podem incluir
a raiva, mágoa, culpa, ansiedade e tristeza. As reações
físicas incluem dificuldade para dormir, mudanças
no apetite, queixas ou doenças somáticas, enfim, sinais
e sintomas relacionados ao Transtorno de Adaptação e Ajustamento.
As reações sociais incluem os sentimentos
experimentados ao ter que cuidar de outros membros da família,
o desejo de ver ou não a determinados amigos ou familiares (isolamento),
ou o desejo de regressar rapidamente ao trabalho. Este processo depende
do tipo de relação que se teve com a pessoa que morreu.
Lindenmam (1994) faz notar cinco características para essas reações:
1. - aflição somática,
2. - preocupação com a imagem da pessoa morta,
3. - culpa,
4. - reações hostis, e
5. - perda da conduta normal.
O conflito emocional, seja ele consciente o inconsciente, pode ser relacionado
também à resposta cultural à perda. O processo de
incorporar a perda na vida afetiva contrapõe aquilo que queremos,
com aquilo que devemos e aquilo que conseguimos. O conflito é,
por exemplo, a contraposição entre o fato de sabermos que
a morte deve ser inevitável, até como decorrência
normal de quem vive, mas mesmo assim não queremos, e nem conseguimos
aplicar à realidade essa conotação racional. Muitos
outros conflitos, mais complexos que esse do exemplo, podem estar presentes
diante da perda de um ente querido.
No chamado Processo da Pena se incluem três tarefas necessárias
para que a pessoa volte a reintegrar-se à sua vida normal. Estas
atividades incluem:
1. - liberar-se dos laços com a pessoa falecida,
2. - reajustar-se ao ambiente onde a pessoa falecida já não
está e
3. - formar novas relações.
Liberar-se dos laços com a pessoa falecida, implica que se deve
modificar a "energia emocional" (o tônus afetivo) invertida
na pessoa perdida. Isto não quer dizer, de forma alguma, que tenhamos
deixado de amar a pessoa desaparecida, mas sim, que é possível
agora dirigir os sentimentos e afetos a outros, em busca de uma satisfação
emocional.
A morte desperta com freqüência evocações de
perdas ou separações do passado. Bowlby (1961) descrevia
três fases do processo de luto:
1. - a urgência de recuperar à pessoa perdida,
2. - a desorganização e desespero e, finalmente,
3. - a reorganização da vida.
Durante o processo de reajuste ambiental (reorganização
da vida) tem-se que modificar as regras, os valores, a própria
identidade e as habilidades para ajustar-se a um mundo onde o falecido
já não está. Ao modificar a energia emocional, a
energia que uma vez se concentrava na pessoa falecida, agora se concentra
em outras pessoas ou outras atividades. Esse esforço adaptativo
costuma requerer muita energia física e emocional e, não
é raro, vermos pessoas atravessando essa fase experimentando uma
fadiga avassaladora. Nessa fase, em se tratando de um estado depressivo,
ou mesmo um Transtorno de Ajustamento, pode estar indicado um tratamento
psiquiátrico medicamentoso e/ou psicoterápico.
A experiência de Perda e Pesar
não é somente pela pessoa que faleceu, mas também
por todos os planos, idéias e fantasias que não se levaram
a cabo com a pessoa desaparecida. De qualquer forma, os processos de Perda
e Pesar fazem parte normal do universo existencial humano,
são normais na medida em que sugerem que os seres humanos necessitam
apegar-se a outros para melhorar sua sobrevivência e reduzir o risco
de dano.
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