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TERAPIA
MOTIVACIONAL
Berwick queria reduzir o número de mortes por erros de procedimento
em hospitais dos EUA. A taxa de "defeito", isto é, de
erros como não ministrar a droga certa na quantidade e na hora
especificadas, era de absurdos 10% no início dos anos 2000. Na
maioria das indústrias, esse índice é inferior a
0,1%. Isso significava que dezenas de milhares morriam desnecessariamente
a cada ano.
Nada disso era novidade. Os números eram conhecidos e todos sabiam
mais ou menos o que deveria ser feito, mas as mudanças simplesmente
não aconteciam. Foi aí que, em 14 de dezembro de 2004, numa
convenção de administradores hospitalares, Berwick lançou
o desafio. Propôs que, até as 9h de 14 de junho de 2006,
ou seja, dali a 18 meses, as pessoas naquela sala salvassem 100 mil vidas.
A plateia ficou chocada, mas Berwick sugeriu que todos ali se comprometessem
a implementar seis medidas específicas capazes de produzir enorme
retorno. Algumas eram simples, como garantir que a cabeceira da cama de
todos os pacientes estivesse com inclinação entre 30°
e 45°, modo eficaz de prevenir pneumonia, complicação
comum e frequentemente fatal.
Eles concordaram, mas não foi fácil. Aceitar as medidas
implicava reconhecer que os hospitais tinham taxa elevada de erros e que
produziam mortes desnecessárias, um pesadelo para os departamentos
jurídicos. Mas a coisa ganhou força e, dois meses depois
do discurso, mil hospitais haviam formalizado adesão à campanha.
Em 14 de junho de 2006, Berwick anunciava que os hospitais participantes
da campanha das 100 mil vidas tinham evitado coletivamente 122.300 mortes,
segundo cálculos dos epidemiologistas. Mais importante, a maior
parte das seis medidas propostas havia sido institucionalizada. Os hospitais
dos EUA se tornaram lugares um pouco menos perigosos.
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