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O
CONDUTOR E O ELEFANTE
Qualquer comportamento humano é o resultado da interação
de uma série de variáveis, que incluem desde inflexíveis
características genéticas até detalhes extremamente
pessoais.
Pesquisadores da Universidade Duke estimaram, num trabalho de 2006, que
mais de 40% das ações que executamos diariamente não
são produto de decisões deliberadas, mas do hábito.No
caso do fumante, imagine quantos ações, situações,
sentimentos e lembranças estão associadas ao cigarro?
Por isso que a dependência psicológica do cigarro é
a maior dificuldade a vencer pelo fumante quando decide parar de fumar.
O hábito é basicamente uma rotina neurológica pela
qual executamos uma tarefa de modo mais ou menos automático, como
escovar os dentes ou acender um cigarro após as refeições.
Trata-se de uma ferramenta de aprendizado, a forma favorita da natureza
de fixar comportamentos úteis para a sobrevivência. Mas no
caso do cigarro é desfavorável a sobrevivência, mas
mesmo sabendo disto o fumante não consegue rompe-lo facilmente.
O problema é que o comportamento flexível demanda enormes
recursos atencionais e, portanto, energéticos (o sistema nervoso
central consome sozinho cerca de 25% do oxigênio que respiramos).
Sempre que pode, o cérebro tenta converter atividades rotineiras
em hábitos e, com isso, poupar energia e liberar espaço
para outras tarefas. O hábito cria um condicionamento mental e
comportamental que não é percebido pelo fumante.
Na terapia é desvendado este processo para quebrar esta ferramenta
e através da consciência levar a pessoa a fazer a escolha
entre manter ou mudar este hábito. Fazer a pessoa ficar ciente
de quais gatilhos disparam seus hábitos.
Na versão simplificada, hábitos se materializam como um
circuito de três fases. Eles são desencadeados por uma sugestão
que funciona como gatilho (ir a um local desconhecido), disparando a rotina
gravada nos gânglios basais. Essas rotinas podem ser tanto físicas
(suar, respirar mais rapido) como mentais (lembrar do desconforto de não
saber como se portar ou quem encontrar).
Daí vem a “vontade de fumar”. Em seguida vem a recompensa,
que costuma ser uma boa descarga de dopamina, conhecida como molécula
do prazer e alivio da ansiedade. Trata-se de um mecanismo de "feedback"
positivo.
Isso significa que, quanto mais fumamos, mais esta ferramenta se solidifica
em nossas mentes. Daí a dificuldade em abandonar o cigarro. Quando
tentamos não fumar, adiamos por mais tempo esse mecanismo que se
manifesta na forma de "craving" (fissura), que é o desejo
incontido de executar a rotina despertado pelo gatilho (o mesmo ou um
novo).
Vamos utilizar a imagem do psicólogo Jonathan Haidt:
Emoções,são um elefante; a razão, o condutor
desse elefante. O animal obedecerá ao piloto, mas apenas enquanto
estiver disposto a fazê-lo. Quando os dois estão de acordo,
tudo transcorre bem mas quando divergem, o elefante tende a levar a melhor.
Ele afinal, é o mais forte e o mais resistente. Há outras
circunstâncias, mais raras, em que o condutor convence o bicho a
mudar de ideia. O dependente é o elefante e o terapeuta o condutor
que vai ajuda-lo a promover as mudanças de hábito.
A receita da mudança de hábito tem três partes. Primeiro,
dirija-se ao condutor do elefante. Muitas vezes, o que parece resistência
é apenas falta de clareza.
Segundo, motive o elefante. O que parece preguiça pode ser só
exaustão. O condutor não consegue opor-se ao animal por
muito tempo, assim, é preciso colocar o lado emocional para trabalhar
a favor da mudança.
Terceiro, modele o caminho. O que parece falha de caráter é
às vezes só problema situacional, quando você altera
um bocadinho as coisas para que a mudança pareça mais factível,
ela se torna mais provável.
No entanto, nunca nos livramos de verdade de nossos hábitos, mesmo
quando nos esforçamos para mudá-los. A rotina antiga é
alterada, mas fica armazenada em algum recôndito de nossas mentes.
O bom é que não precisamos reaprender a dirigir sempre que
voltamos de férias. O ruim é que, sob estresse, alcoólatras,
fumantes e outras vítimas de dependência podem recair nos
velhos padrões.
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